Fundador da rede de academias Bio Ritmo / Smart Fit, Edgard Corona revela as dificuldades que passou e o que aprendeu em 20 anos de atuação no ramo:
Cláudio Marques
De uma unidade em Santo Amaro, na zona sul de São Paulo, a uma rede de academias que encerra 2016 com 395 lojas, sendo que 100 delas estão no México, Chile, República Dominicana e Colômbia com um total de 1 milhão de alunos e previsão de faturamento superior a R$ 900 milhões, a vida empresarial de Edgard Corona, fundador das marcas Bio Ritmo e Smart Fit, passou por turbulências, erros e grandes aprendizados.
Para começar, ele diz que ele e seus então sócios erraram durante oito anos com a academia na zona sul, inaugurada em 1996. “Nós nos ferramos”. Segundo ele, o projeto estava errado, faltava equilíbrio entre estacionamento e o preço que cobravam. “Quando era caro, sobrava vaga e não tinha público, quando era barato, não tinha vaga.”
Depois de oito anos, o negócio melhorou e houve um bom período de dois anos. Mas o imóvel onde a academia estava instalada foi desapropriado para a construção de uma estação de metrô. O jeito foi recomeçar.
Foi quando surgiu a Bio Ritmo, no Conjunto Nacional da Avenida Paulista, com uma “pegada” top de linha. “Eu queria fazer uma coisa diferente, não tradicional em academia. Chamei o arquiteto João Armentano para fazer o projeto. Ele fez um trabalho bonito, deu uma diferenciada no produto e criamos uma experiência diferente para os clientes.” .
Em seguida, vieram mais duas unidades. Uma deu certo, a outra, no Morumbi, não teve o resultado esperado. Serviu como aprendizado. “Quando não se faz uma benchmarking bem feito, paga-se com o bolso. Foi um negócio muito dolorido”, admite Corona.
Ele passou a buscar aprendizado no mercado americano, que é mais maduro, que é mais maduro, segundo ele. Uma medida, foi trazer “uma turma que trabalhava o mercado americano” para mudar a gestão. Na sequência, buscaram um profissional para trabalhar a retenção do cliente. “Para que as pessoas tivessem resultado e as ficassem na academia.”
De acordo com Corona, era momento de expandir. “Sabíamos vender e reter. Agora, precisávamos ter capilaridade para fazer a marca. Aí começamos a fazer a expansão.” De acordo com o empreendedor, havia dificuldade de crescer com capital de terceiros, em razão dos altos juros. “Sobrava dinheiro, fazia uma unidade, depois sobrava mais um pouquinho, e fazia outra.”
Ele diz que o negócio “andou” baseado num modelo parecido com o que lá fora dava certo. “As redes que cresciam lá fora cresciam nesse formato, barra, sala de musculação e cárdio, então crescemos nesse modelo.”
Outra mudança ocorreu em 2003/2004, quando mudou o formato de gestão, que se tornou mais horizontal. “Quando se trata do setor de serviços não se pode ter um modelo em que a pessoa diga ‘preciso perguntar para a sede’, tem de resolver na hora. É necessário, então, treinar muito a equipe, desenvolvê-la, estruturar as lideranças para que a entrega fosse mais consistente.”
Apesar do crescimento, em 2007, um problema, que Corona atribui a um software de gestão, inclusive financeira, quase levou ao fim de todo o empreendimento, porque houve um descontrole em relação ao fluxo de caixa. Mas duas novas unidades, Campo Belo e Cerro Corá, entraram em funcionamento. “Daí para frente foi velocidade de cruzeiro. As operações estavam bem estruturadas, bem enxutas, lucrativas com um bom produto, tínhamos uma boa operação.”
Em 2009, uma nova mudança, com a criação da rede Smart Fit, baseada no conceito de baixo custo, com a inauguração de quatro unidades: São Paulo, Brasília, Rio de Janeiro e Porto Alegre. A empresa alega que a rede é a que oferece a melhor relação custo-benefício do mercado. A marca Smart Fit tem um modelo enxuto de gestão, equipamentos modernos e preços que atraem um grande número de clientes.
Com o investimento feito na empresa pelo fundo Pátria, em 2010, foi possível pavimentar o caminho para uma expansão mais forte, tanto no Brasil quanto na América Latina. “Temos 68 clubes no México, somos líder lá. Somos a maior rede mexicana lá com a marca Smart Fit. O país terminará 2016 com 70 clubes e com 110 em 2017. A segunda cadeia lá tem 45 unidades.”
O fundo contribuiu não apenas financeiramente, mas também para aperfeiçoar a gestão. Ao mesmo tempo, a adoção do modelo de franquias também favoreceu o crescimento. Das 359 unidades, 60 são de franqueados, sendo que 52 estão no Brasil e 7, na República Dominicana.
Para 2017, além projetar que a rede chegue a 500 unidades, a empresa planeja que todas as academias do grupo comercializem produtos com a marca Smart Fit. Para isso, investiu cerca de R$ 2 milhões na criação da própria linha de suplementos e isotônicos para esportistas.
Outro projeto é a entrada no mercado de moda fitness, resultado de um investimento de R$ 2,5 milhões. A ideia é que as peças sejam comercializadas via plataformas online. “Cerca de 35% dos mais de um milhão de clientes que temos toma algum tipo de suplementação. Por que não fornecer para essa turma um produto que formatamos e formulamos aqui? Escolhemos um laboratório farmacêutico e o produto vai da fábrica direto para o consumidor. Achamos que conseguimos reduzir os preços em torno de uns 20% do que ele paga hoje.”
A experiência obtida em 20 anos de atuação no ramo, deixou em Corona dois grandes aprendizados. “Eu acho que é um aprendizado constante no Brasil é que você não pode ficar devendo. Se a pessoa estiver um pouco alavancada demais pode tomar um contrapé, pode ser perigoso.” A segunda grande lição, diz ele, é mudar o modelo de gestão para um modelo horizontalizado.
Fonte: http://economia.estadao.com.br/