O Brasil não está à venda, não venda seu sonho sem o devido preparo, busque ajuda.
Diante de uma forte recessão inúmeras pequenas e médias empresas brasileiras se desidrataram e foram compradas a preço simbólico ou decretaram falência. A pandemia do Covid-19 gerou uma crise mundial e a realidade é desesperadora para dezenas de setores que sabem que o processo de recuperação será longo. Nessas situações, percebemos movimentações para consolidação de mercados porque empresas com grandes dívidas perdem valor de mercado. Quem não sofreu tanto com a quarentena aproveita para comprar fornecedores, concorrentes e outros negócios da cadeia para aumentar a sinergia operacional, comercial e financeiro, por exemplo. E aqui desejo fazer um alerta: não é o momento de vender sua empresa.
De fato o empresariado, de modo geral, tem uma profunda e negativa resistência em buscar ajuda antes de se ver sem saída. Esse é um tipo de perfil de gestores, principalmente, verificado em empresas familiares. São empresas que estão na primeira e segunda geração sendo comandadas por executivos de sucesso e que deram a volta por cima diante de várias crises. Conseguiram retomadas importantes, mas diante de um novo cenário, em que não há crédito, em que as alternativas utilizadas, muitas vezes, já não funcionam mais, é preciso reestruturar por completo o negócio para evitar uma venda precipitada.
Avaliando os relatórios mensais da Serasa Experian desde janeiro 2018 até abril deste ano, temos atualmente 1.439 empresas em recuperação judicial. De lá pra cá, 3.172 tentaram o recurso da RJ mas não conseguiram, dentre elas 489 são grandes empresas, seguida das médias com 648. Um total de 2.047 tiveram o pedido de falência concedidas, desde 2018. De acordo com a WPC (PricewaterhouseCoopers), este ano iniciou com 89 transações de fusões e aquisições anunciadas em janeiro. Um volume 68% superior à média do mês nos últimos 5 anos (53 transações), seguindo a tendência de crescimento do mercado de M&A para 2020 e próximo ano. O que me chama atenção é o crescimento das transações envolvendo investidores nacionais, correspondendo a 76% das aquisições e compras minoritárias.
As movimentações de fusão e aquisição parcial são uma ótima alternativa para empresas endividadas e sem perspectivas. Uma venda total precipitada põe uma história corporativa água abaixo. Vejo empresários com negócios incríveis e atualmente engessados. Herdeiros que não desejam assumir a gestão, uma descapitalização de patrimônio para bancar a empresa e um cenário que caminha para uma redução drástica da operação. De fato, não há crédito fácil disponível, mas uma operação a custo zero não é justo com a história do negócio. A crise é temporária, perder valor é sinal de oportunidade de melhoria da gestão de seu negócio. É necessário reestruturar a empresa para não perder valor, desenvolver uma avaliação e buscar uma opção de venda parcial ou até total, se for interessante. O Brasil não está à venda, não venda seu sonho sem o devido preparo. Busque ajuda.
Frank Koji Migiyama é formado em Engenharia Eletrônica pelo IME, possui MBA em Administração de Empresas pela FGV/SP. Sócio da FK Consulting.Pro, é especialista em recuperação Judicial, reestruturação de empresas, M&A e governança corporativa.
Fonte: https://administradores.com.br/